

Israel convoca negociadores para analisar resposta do Hamas à proposta de trégua em Gaza
Israel informou, nesta quinta-feira (24), que chamou seus negociadores que estavam no Catar nas conversas sobre um cessar-fogo em Gaza, a fim de analisar a resposta do Hamas à última proposta de uma trégua de 60 dias.
Há mais de duas semanas, os negociadores de ambos os lados mantêm conversas indiretas no Catar, na tentativa de concordar com uma trégua que permita, em um primeiro momento, a libertação de dez reféns israelenses vivos, em troca de um número indeterminado de palestinos detidos em Israel.
Israel enfrenta uma crescente pressão de organizações humanitárias que denunciam a "fome em massa" que está se espalhando pela Faixa de Gaza, após quase dois anos de conflito.
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, informou que, após receber a resposta do Hamas, decidiu o retorno da equipe de negociação para continuar as consultas em Israel.
"Agradecemos aos esforços dos mediadores do Catar e do Egito", assim como o papel do emissário americano Steve Witkoff para alcançar progresso nas negociações, declarou em comunicado.
Segundo uma fonte palestina próxima às negociações, a resposta inclui emendas às modalidades de entrada de ajuda humanitária, mapas das áreas das quais o exército israelense deveria se retirar e garantias sobre o fim definitivo da guerra em curso desde outubro de 2023.
- "A fome ameaça sua sobrevivência" -
No terreno, continuam os bombardeios e disparos israelenses, e a Defesa Civil de Gaza relatou pelo menos 40 mortos, incluindo crianças e pessoas que aguardavam a distribuição de ajuda.
Em Khan Yunis, no sul do território, Um al Abd Nasar instou o Hamas a concordar com uma trégua, após seu filho morrer em um bombardeio em um campo de refugiados.
"Eles têm que fazer algo. Já chega dessa destruição e pessoas morrendo", declarou à AFP.
Após impor à Gaza um cerco total em outubro de 2023, Israel impôs novamente um bloqueio ao território costeiro palestino no início de março, que aliviou parcialmente no fim de maio.
Os mais de dois milhões de habitantes de Gaza enfrentam grandes dificuldades para acessar comida, medicamentos e combustível.
"As crianças caem ao caminhar por falta de comida", afirmou Salma Al Qadumi, cinegrafista da AFP, ao falar de seus três sobrinhos, de entre quatro e 12 anos.
Nesta quinta-feira, as agências de notícias AFP, AP e Reuters e a emissora britânica BBC instaram Israel a "autorizar a entrada e saída de jornalistas em Gaza", ao mesmo tempo que se disseram "profundamente preocupadas pelo fato de que, agora, a fome ameaça sua sobrevivência".
- "Bloqueio" -
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou na quarta-feira que "grande parte" da população de Gaza sofre de fome.
"Há pessoas morrendo maciçamente de fome", declarou Tedros.
Para a França, "o risco de fome" em Gaza é "resultado do bloqueio" imposto por Israel.
Na terça-feira, um hospital de Gaza afirmou que 21 crianças haviam morrido de fome e desnutrição nas últimas 72 horas.
"Enquanto o cerco do governo israelense mata de fome a população de Gaza, trabalhadores humanitários se juntam agora às mesmas filas por alimentos, arriscando serem baleados apenas para alimentar suas famílias", indicaram na quarta-feira 111 organizações, incluindo Médicos Sem Fronteiras (MSF), Save the Children e Oxfam, em um comunicado conjunto.
O porta-voz do governo israelense, David Mencer, afirmou que "não há uma fome causada por Israel. Trata-se de uma escassez provocada pelo Hamas", que governa Gaza e que, segundo ele, impede a distribuição da ajuda e saqueia parte dela.
O Hamas sempre negou essas acusações.
As autoridades israelenses informaram nesta quinta-feira que cerca de 70 caminhões com ajuda haviam sido descarregados na véspera nos pontos de entrada e "mais de 150 já haviam sido recuperados pela ONU e organizações internacionais em Gaza".
As agências humanitárias afirmam, por outro lado, que as autorizações concedidas por Israel são limitadas e a coordenação para enviar os caminhões constitui um desafio importante em uma zona de guerra.
O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 em Israel resultou na morte de 1.219 pessoas, em sua maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.
A campanha militar israelense no território palestino matou 59.587 palestinos, majoritariamente civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, considerados confiáveis pela ONU.
Os militantes capturaram ainda, naquele dia, 251 pessoas em território israelense, das quais 49 seguem em cativeiro em Gaza. Destas, 27 estariam mortas, segundo o Exército.
K.Pono--HStB