Celac e UE realizam cúpula à sombra de ataques de Trump no Caribe
A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE) realizam no domingo e na segunda-feira, na Colômbia, uma cúpula marcada pelos ataques dos Estados Unidos a embarcações no Caribe e no Pacífico.
Os ataques ordenados pelo governo de Donald Trump contra embarcações que, segundo Washington, transportam drogas para os Estados Unidos já deixaram cerca de 70 mortos.
O anfitrião do encontro entre a Celac e a UE será o presidente colombiano, Gustavo Petro, cujo governo enfrenta o período de maior tensão com Trump, a quem acusa de "execuções extrajudiciais" na região.
O assunto dominará a agenda da cúpula na cidade de Santa Marta, localizada precisamente no Caribe ao norte da Colômbia, adianta à AFP Sandra Borda, professora de ciência política da Universidade dos Andes.
Os temas oficiais do encontro são o comércio, a transição ecológica, o crime transnacional e a segurança regional. Mas "uma discussão entre as duas regiões sem levar em conta esse tema (da mobilização militar dos EUA no Caribe) seria como ter um elefante permanente na sala", disse Borda.
- Pressão sobre a Venezuela -
Petro, que presidirá a cúpula, assim como outros líderes da América Latina, rejeitam as ações de Washington.
A incursão militar dos Estados Unidos em águas regionais aumentou a pressão sobre a Venezuela, que considera os ataques próximos ao seu litoral como uma desculpa para derrubar o presidente Nicolás Maduro, a quem Washington e outros governos não reconhecem após sua questionada reeleição no ano passado.
Em particular, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, se mostrou contrário a qualquer possibilidade de "invasão terrestre" na Venezuela.
Lula, que será um dos líderes presentes em Santa Marta, opinou que os Estados Unidos poderiam "tentar ajudar" os países em seu combate ao narcotráfico "em vez de tentar atirar neles", e se ofereceu para mediar o conflito.
Por sua vez, Petro acusou na quinta-feira Trump de estar por trás de uma "invasão real ao Caribe" e rejeitou que o republicano o acuse sem provas de ser um "líder do narcotráfico".
- Participação reduzida -
A América Latina e a União Europeia têm laços de longa data. São parceiros comerciais que trocam tecnologia da Europa por matérias-primas do continente americano.
Os governos participantes abordarão temas como políticas migratórias e a defesa do multilateralismo, disse um funcionário da UE.
Dos 33 membros da Celac e dos 27 da União Europeia, apenas alguns chefes de Estado e de governo comparecerão, como o presidente do Conselho Europeu, António Costa, ou o do governo espanhol, Pedro Sánchez.
O presidente colombiano denunciou pressões de Washington para que líderes caribenhos não comparecessem à cúpula Celac-UE.
"Forças alheias à paz da América quiseram que a cúpula Celac/Europa fracassasse", disse Petro na segunda-feira no X.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, cancelou sua viagem no último momento devido à falta de participação internacional, segundo um funcionário europeu.
Semanas antes, foi anunciada a suspensão da Cúpula das Américas na República Dominicana em dezembro, segundo os organizadores, devido à "situação na região".
A cúpula de Santa Marta terminará na segunda-feira com uma declaração final não vinculativa.
I.Kai--HStB